terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Meditando Dia e Noite

Confesso que algumas coisas relacionadas a Bíblia, por mais simples que possam parecer, ainda me deixam em dúvida, até mesmo um pouco confuso.

Ontem eu voltei a trabalhar. Fui a Cabo Frio para uma reunião, e como de costume, fiquei algumas horas sentado na poltrona do ônibus na ida e na volta. Na volta me incomodei um pouco com a situação, não havia nenhum livro para ler, meu ipod estava sem bateria e o banco era desconfortável demais para um cochilo. Resolvi então meditar na Lei do Senhor.

Iniciei meditando no trecho onde Deus instrui a Josué Meditar no Livro da Lei dia e noite.

Não deixe de falar as palavras deste Livro da Lei e de meditar nelas de dia e de noite, para que você cumpra fielmente tudo o que nele está escrito. Só então os seus caminhos prosperarão e você será bem-sucedido.
Josué 1:8

Então logo veio a dúvida: o que significa exatamente, na prática, meditar dia e noite em algo? A primeira vista parece algo sobrehumano, como manter a mente sempre cativa a um único tema?

Antes de escrever estas coisas, agora a pouco, fiz uma pesquisa google com a chave "medita dia e noite" para ver o que outros blogueiros pensam sobre isso (também vi no yahoo respostas), como não sou muito paciente não olhei muitos, mas o que percebi e que o se pensa sobre isso é que meditar no Livro da Lei dia e noite significa estudar diligentemente a Bíblia, um blogueiro até sugeriu, para os pouco experientes, começar com um dos evangelhos.

Penso, ou melhor, pensei ontem no ônibus, que a questão é um pouco mais ampla. O termo "dia e noite" pode para alguns sugerir fazer algo em dois períodos, um diurno e outro noturno. Se esta interpretação estiver correta (acho um pouco difícil), os retiros que fazíamos eram exatamente de acordo com este mandamento divino, tínhamos um culto matutino e outro noturnos, todos os dias.

Meditar dia e noite em algo me parece significar meditar continuamente, acho que esta é a interpretação correta. Mas aí surge outro problema, imaginem um artesão fazendo seu trabalho extremamente complexo, cheio de detalhes que exige, do mesmo, concentração total. Será que devemos incriminar este artista por este pecado de deixar de meditar na Lei em quanto trabalha? Acho isso um pouco estapafúrdio. Pouco?

Como concluir então esta meditação sobre a meditação? Só me parece restar uma alternativa, Deus estava dizendo a Josué, e também a mim (e a todos nós): Josué, considere minha Lei em todos os momentos de sua vida, na paz, na guerra, nas questões de sua vida particular, nas questões do povo, em todos os seus relacionamentos, em tudo tenha a minha lei em seus pensamentos para cumpri-la de maneira exemplar!

Para cumprir este mandamento divino nosso herói deveria conhecer com excelência toda a Lei de Deus. Porque para nós seria diferente? Dediquemo-nos em conhecer a lei do Senhor, afim de meditar nela dia e noite.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Estrada de Damasco

Ontem assisti o filme "Ensaio Sobre a Cegueira". Adaptado do livro escrito pelo premiado escritor português Jose Saramago e dirigido pelo brasileiro Fernando Meirelles. Achei que valia a pena comentar este filme, isso porque não consegui parar de pensar nas coisas que vi e senti ontem. Não li o livro, na verdade nunca li um livro sequer do Saramago (ontem percebi o que eu estava perdendo), logo não estou apto a fazer um comentário com muita propriedade, mas posso sim falar do que senti ao assistir a adaptação de um fragmento da obra deste, agora admirado por mim, autor.

Algo que me chamou a atenção foi como o caos foi descrito. Em outros filmes de catástrofes, por mais que a situação seja impossível de ser resolvida, dependendo de uma ação heróica/milagrosa do protagonista, quase sempre temos pessoas formulando planos para a solução do problema, seja o governo norte americano (quase sempre com "ar" de governo da humanidade) ou civis comuns, sempre existem pessoas tentando resolver a apocalíptica questão. Nesta história toda a humanidade é totalmente impotente, nenhum "Will Smith" ou "Tom Cruise" seria capaz de sequer ter esperança para pensar em uma solução para a questão. Nada poderia ser feito, a "epidemia" era totalmente misteriosa até mesmo para os maiores especialistas e em breve alcançaria a todos.

Mais uma vez me percebi com um sentimento que sempre vem quando vejo filmes ou leio histórias onde pessoas vivem situações extremas, desumanas, ficam no limite. O estranho é que este sentimento não me parece fantasioso, como estas histórias são. Parece que todo conforto que tenho, caso me seja tirado, poderá amplamente me transformar, a segurança que sinto, se me for arrancada, parece que tem o poder de mudar meus valores. Sinto que meu estilo de vida, civilizado, gentil, em uma situação extrema pode em um instante não fazer o menor sentido.



Quando um filme com está temática acaba, o sentimento, que realmente deixa a trama muito mais atraente, vai embora da mesma forma repentina que chega. Por algum motivo, esta história, como uma droga mais forte, me causou uma "onda" mais duradoura, a ponto de me acompanhar até minha cama e me tirar alguns minutos de sono. Acho que isso está associado a uma cena onde um padre compara a cegueira, que havia alcançado quase toda a humanidade, a cegueira de Saulo na Estrada de Damasco. Não sei se esta cena tem todo o significado que imagino, como não li o romance e não sei como pensa Saramago, nada posso afirmar sobre as intenções do autor simplesmente vendo a cena, que sinistramente mostrava as esculturas e pinturas dos "santos" vendadas. Mas tudo começou a fazer sentido para mim, mesmo que não seja exatamente esta a intenção do autor.

Uma forte mensagem do filme é que quando estamos fragilizados o sentimento de comprometimento mútuo aflora. Os personagens dependiam uns dos outros de uma maneira quase que humilhante, eram de fato dependentes, sozinhos qualquer um, exeto a mocinha, que era a única com o dom da visão, morreria rapidamente. Neste ambiente desenvolvem-se relacionamento de maneira muito mais profunda, amizades nascem sem preconceitos, o afeto é, aparentemente, mais puro e verdadeiro. A cegueira trouxe, aos mocinhos do filme, algo relevante e precioso.

Mas a cena do padre comparando a situação relatada no filme com o que ocorreu com Paulo realmente não sai da minha mente. A forma como Jesus tratou Saulo e o transformou no Apóstolo Paulo foi realmente peculiar. A transformação de um obstinado e violento opositor em um dos mais brilhantes aliados foi um evento marcante na história do cristianismo e me faz pensar como fragilizar pode ser o primeiro passo para transformar.

Palavras de José Saramago, na apresentação pública do seu romance Ensaio sobre a Cegueira.


"Este é um livro francamente terrível com o qual eu quero que o leitor sofra tanto como eu sofri ao escrevê-lo. Nele se descreve uma longa tortura. É um livro brutal e violento e é simultaneamente uma das experiências mais dolorosas da minha vida. São 300 páginas de constante aflição. Através da escrita, tentei dizer que não somos bons e que é preciso que tenhamos coragem para reconhecer isso."


Entender esta mensagem não é importante apenas para nosso desenvolvimento como seres humanos, como poderia propor Saramago, disto depende nossas almas! Reconhecer nossos pecados é o primeiro passo para receber a Graça Transformadora do Altíssimo.